O ataque à casa do presidente da câmara de um subúrbio parisiense provocou indignação em França após cinco noites consecutivas de tumultosdesencadeados pelo assassínio pela polícia de um adolescente, cuja avó apelou no domingo (02.07.2023) ao fim da violência.
A França está a viver uma explosão social desde a publicação do vídeo do morte de Nahelque foi baleado à queima-roupa por um polícia durante uma paragem de trânsito em Nanterre, perto de Paris, na terça-feira.
Um dos incidentes mais graves dos últimos dias ocorreu na pequena cidade de L’Haÿ les Roses, nos subúrbios de Paris, onde um carro em chamas colidiu na madrugada de domingo com a casa do presidente da câmara, Vincent Jeanbrun, do partido conservador Republicanos.
O choque causado pelo atentado ofuscou o declínio da violência verificado durante a noite de sábado para domingo em muitas cidades de França e que parecia continuar a sua trajetória descendente ao início da tarde de domingo.
Até às 23h30, a polícia tinha efectuado 49 detenções em todo o país, de acordo com o Ministério do Interior.
Numa tentativa de conter a crise, o presidente Emmanuel Macron vai reunir-se na segunda-feira com os presidentes da Assembleia Nacional e do Senado, anunciou um participante na reunião de domingo entre o chefe de Estado e vários dos seus ministros.
Na terça-feira, Macron receberá os presidentes de câmara de “mais de 220 municípios” afectados pelos motins e pilhagens dos últimos dias, acrescentou a mesma fonte.
“Foi atingido um marco de horror e ignomínia”, denunciou o presidente da câmara Vincent Jeanbrun. “Queriam incendiar a casa” e quando “se aperceberam que havia alguém lá dentro, longe de parar, lançaram uma barragem de morteiros pirotécnicos”, disse ao canal de televisão TF1.
A mulher e um dos dois filhos pequenos do presidente da Câmara de L’Haÿ les Roses ficaram ligeiramente feridos quando fugiram da casa.
Reunião dos presidentes de câmara de França
O Ministério Público abriu um inquérito por “tentativa de homicídio”.
Um outro presidente da câmara foi atacado em Charly, uma cidade a sul de Lyon (centro-leste). De acordo com o gabinete do presidente da câmara, foi encontrado em sua casa, no domingo de manhã, um engenho “inequivocamente” destinado a provocar um incêndio.
De acordo com o presidente da Associação dos Presidentes de Câmara de França (AMF), David Lisnard, “150 câmaras municipais ou edifícios municipais foram atacados” desde terça-feira. A AMF convocou uma manifestação para segunda-feira, ao meio-dia, em frente às câmaras municipais de todo o país.
Dez esquadras de polícia, dez quartéis da gendarmeria e seis esquadras municipais foram atacadas na madrugada de domingo, resultando em 719 detenções em todo o país, um pouco menos de metade do que no dia anterior, informou o Ministério do Interior.
“Basta, parem de vandalizar”, exigiu no domingo a avó do jovem Nahel, entrevistada pela BFMTV, um dia após o funeral do neto em Nanterre.
“Que não partam montras, que não vandalizem escolas, autocarros… são as mães que utilizam o autocarro”, insistiu.
“Culpo os dois polícias (…) que deram dois tiros na cabeça do meu neto, e o que lhe deu um tiro no coração, (porque) podia ter-lhe dado um tiro na perna, um tiro no braço” e não o fez, lamenta a avó de Nahel, assegurando que, no entanto, tem “confiança na justiça”.
O autor do disparo fatal, de 38 anos, está detido desde terça-feira, acusado de homicídio voluntário.